Quinta-feira, primeiro de fevereiro de 2007, já são 18:40 mas ainda está claro, de longe se vê cerca de meia duzia de pessoas debruçadas na passarela olhando atentamente alguma coisa na rua. São os homens do Corpo de bombeiros retirando uma pessoa de dentro de uma van branca. Estão na pista que vai em direção ao centro da cidade. Não muito distante do cemitério do caju e antes de passar pela Fiocruz para quem vai em direção à Linha Amarela. Ali estão eles, socorrendo a(s) pessoa(s) e lá em cima estão elas: urubuzando o seu trabalho. Acabou? Ouve-se um barulho. Motos com problemas de escapamento? Não. O homem que está na minha frente anuncia: é tiro. Os homens que socorriam se tornam vítimas, escondem-se atrás da porta da frente da van. As pessoas, dentro do ônibus em que eu estava, abaixam-se também, mesmo estando a duas pistas de distância.
O nosso veículo anda, levantamos. Voltamos à vida normal. Será? Temos mesmo que nos acostumar com tiros, brigas e sangue no nosso trajeto de ida e volta do trabalho?
A pobreza continua lá. Nós passamos. Em vias expressas, avenidas brasis, sejam elas amarelas ou vermelhas. Se arriscar um olhar para o lado, um que não seja assim muito distraído, poderá ver pessoas vivendo em paupérrimas condições. Ou será que alguém imagina uma boa vida por trás daquelas casinhas de tijolos, mal-feitas e mal-acabadas?
Mas enfim, a vida andou, todos seguiram em frente, eles que ficaram lá, no meio dos tiros.