quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Lapa é pura diversão

Domingo, já escurece, mas as pessoas ainda não estão dormindo na Lapa. Uma roda de candomblé parece animada, e ali perto aglomeram-se cada vez mais pessoas à espera do show. À direita, vê-se o Melzinho da Lapa – uma barraca vendendo uma espécie de bebida alcoólica dentro de sacolas plásticas finas e compridas (meio difícil de explicar) – uma bandeira preta traz o referido slogan, e, abaixo dezenas de “melzinhos” estão expostos. No palco vemos outra bandeira – esta maior – trazendo o nome do patrocinador: Eletrobrás. Os ambulantes aumentam de quantidade. Velhas caixas de isopor trazem água, cerveja, refrigerante. É preciso andar com cuidado para não tropeçar nos diversos carrinhos que trazem essas caixas. Entre os vendedores, vemos os outros meros consumidores, pelo menos na dada ocasião; jovens, não tão jovens, morenos, brancos, um casal peculiar: uma dinamarquesa loira de olhos azuis e um mulato dançarino (ou seria jogador, ou quem sabe praticante) de capoeira. Ela samba e diz, em português, que seu samba é favelado. Vai la saber o que ela entenda que seja favelado. Com os dedinhos para o alto ela dança como nós, brasileiros, fazemos quando queremos ridicularizar os estrangeiros. Mas o que ela estava dançando? Ah, sim, era ao som de Martinho da Vila, com um sambinha tão gostoso e simples. Brigas? Não vi. Será que a música influencia? Por que será que em festas com músicas mais agitadas, as pessoas...., digamos que, se acariciam de maneira não muito delicada?
Na seqüência, Beth Carvalho. Surge vestida com um lençol rosa com lantejoulas de mesma cor na altura do peito. Cabelo vermelho, abre os braços para a platéia. Começa a cantar e agrada igualmente. No meio da multidão um casal se beija. Normal, não? Exceto pelo fato de que se tratava de dois rapazes. As pessoas ao redor não atiram pedras, não agridem. Alguns reclamam mas tudo segue em paz.
Porém não é tão pacífico manter-se afastado das guerras se você se aventurar a comer numa das barraquinhas. Seu estômago, intestino e tudo o mais que possa fazer parte do sistema digestivo não lhe perdoarão. Tente o bar-restaurante de esquina, caro, sujo e de péssimo serviço. Mas, melhor que passar fome, ou passar mal. Os garçons te atendem rápido se você não ficar em dúvida, e nem se indagar pelo elevado preço dos pratos. Ah, e também se não houver nenhum bicheiro de blusa aberta acompanhado de garotas mal-vestidas, exibindo de forma grotesca seus proeminentes seios.
Certo. Já foi para o show, já bebeu, conseguiu se alimentar (mal), agora só falta ir pra casa. Começa a chover, o povo não desanima. Duas horas da manhã de domingo, amanhã é segunda, eu acho. Será que eles não trabalham? Vai ver trabalham tarde, ou tem muita disposição, quem sabe ainda não precisem trabalhar.... hum... acho que não.... talvez estejam procurando emprego ou sejam autônomos. Enfim, o fato é que estão lá. A chuva cai, com força. No ponto de ônibus, observa-se uma proposta inusitada: uma travesti gorda sentada pergunta a um rapaz negro o que ganharia em troca se fizesse algo que ele queria. Como se ele não respondesse, ela complementa: um sanduíche? Vai me dar um sanduíche?